De Nelson Motta: Jornalista e Crítico Musical
Filha de uma bela e
rica dama da elite gaúcha e de um popular e carismático líder socialista, foi
criada como uma princesa, e, além de uma graça de garota, era muito inteligente
e meio doidinha, e divertidíssima. Neusinha Brizola entrou em cena em 1982,
quando seu pai Leonel foi eleito governador do Rio de Janeiro, e se tornou uma
estrela fugaz do Rock Brasil com o seu hit “Mintchura”, marqueteada por Paulo
Coelho, antes de se tornar escritor de sucesso.
Como Paulo
escreveria anos depois, o universo conspirava a favor de Neusinha e de sua
lenda pessoal. Não que fosse uma grande cantora, mas cantava o suficiente para
começar uma boa carreira de roqueira com atitude anárquica e humor debochado,
que fazia enorme sucesso nos programas populares de televisão, nas suas
entrevistas bombásticas e nos escândalos que protagonizava. Louca por sexo e
drogas, Neusinha era puro rock and roll. Tinha tudo para ser o que quisesse.
De princesinha à
exilada política, drogada desde os 13 anos, mãe aos 21, amiga de Cazuza e Andy
Warhol, amante de mafiosos e traficantes, junkie de heroína em
Amsterdã, Neusinha viveu uma vida vertiginosa, entre o poder e a marginalidade,
prisões e fugas, escândalos e brigas com o pai, e pagou caro, com muito
sofrimento e humilhação no inferno das drogas. Mas voltou das trevas como uma
avó querida e careta, sem deixar de ser doidona, e sem nunca perder o humor,
nos 56 anos que viveu. E como viveu!
Debilitada por seus
excessos e pela hepatite C, e sentindo que o fim se aproximava, Neusinha chamou
Fábio Fabricio Fabretti e Lucas Nobre para contar tudo em uma biografia onde
não esconde nada e se mostra uma personagem fascinante, inteligente e
hilariante, mas também trágica e patética, devassa e destrutiva, narrado na
primeira pessoa sem vergonha e sem piedade, num testemunho dramático, e cômico,
do poder devastador das drogas.
Com uma protagonista
que supera qualquer ficção, em momentos e cenários históricos, com personagens
importantes da política e da música brasileira nos anos 80, entre gargalhadas e
lágrimas, “Neusinha Brizola sem mintchura” é sensacional.
Nelson Motta é Jornalista e Crítico Musical
Publicado em O Globo em 16 de Maio de 2014
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