CAÇADOR DE MIM

Tenho pensado muito sobre, no que me transformei e não consigo me lembrar, por um momento que seja, ter planejado para meu futuro, o que vivo hoje.

Eu sempre me vi tocando um instrumento musical, envolvido com as artes, voando por hobby, morando numa casa no campo, onde eu pudesse compor meus rocks rurais (como sonhavam Sá e Guarabyra), mas a vida foi me direcionando para outros caminhos.

Vivo hoje o conflito entre a vontade de voar e fazer musica e as obrigações de médio empresário, que também foi uma escolha minha em determinado momento da vida, mas meu coração continua na casa no campo, na música e no amor pelo voo descompromissado.

Agradeço a Deus todos os dias pela batalha diária e pelos postos de trabalho gerados pela empresa, mas a solidão decorrente e o stress dioturno, nunca estiveram nos meus planos.

Abri mão das mulheres que amei, dos sonhos que sonhei, do menino poeta, que um dia poderia ter sido, tudo em nome do sucesso obrigatório, cobrado por nossa sociedade, que hipócritamente, enriquece ilícitamente na maioria das vezes.

O sonhador não combina com o empresário, ainda que para ser empresário (especialmente no Brasil),  seja preciso antes de tudo, ser um sonhador.

As pessoas julgam pelo alcance dos olhos, condenam baseadas em si mesmas e difamam sem o menor pudor, ou responsabilidade. Não há situação mais confortável do que ser pedra; ruim é ser vidraça.

Essas coisas insistem em matar em mim o artista, mas não sucumbi até aqui e não pretendo me deixar vencer.

Não corro da luta, me esqueci do medo, ainda que à força, meu peito está aberto procurando resgatar o poeta aprendiz, o músico apaixonado, a casa no campo, a mulher amada, o voo livre, fugindo às armadilhas da mata escura e sem perder o grande amor pela vida.

Com todo respeito, Milton Nascimento, mas sou no momento um "caçador de mim".