SÃO SILVESTRE


Desde pequeno acompanho todos os anos a Corrida de São Silvestre.
A grande diferença da corrida de hoje para a de antigamente, além do percurso, é o horário em que ela é disputada.
Nos meus tempos de menino a gente ia para a Avenida Paulista com a Rua da Consolação (sim porque a Consolação ainda não era avenida) para assistir à corrida e passar a meia noite na rua.
Como ficávamos na esquina que me referi, sabíamos do resultado da corrida pelo rádio (grande veículo de comunicação da época), ou através do boca a boca (grande veículo de comunicação até hoje).
Éramos eu e minha mãe, portanto com uma família tão pequena o melhor era mesmo ir para a rua. Me lembro que a corrida terminava sempre faltando um pouquinho para a meia noite, às vezes coisa de um minuto, ou alguns segundos e logo em seguida já começava a queima de fogos, que se comparada com as de hoje, mais parecia brincadeira de criança.
Era tudo muito rudimentar, mas solene. Três meses antes eu já ficava contando os dias para o natal e a passagem de ano. Nossas ruas quase sem luz, comparadas com as de hoje, ganhavam um brilho todo especial, com milhares de lâmpadas penduradas nos fios, adornos com temas natalinos e de saudações ao ano que se aproximava. Ficávamos tão felizes naqueles meses que antecediam o final do ano e com tão pouco se comparado com os tempos atuais.
Nos anos de fartura cheguei a ganhar quatro caixas de "estalinho", aqueles que a gente jogava no chão e "estalavam" (sim porque não dá nem prá usar o termo explodiam). Às vezes chegávamos em casa sem saber quem havia ganho a corrida, então ligávamos o rádio mais que depressa para ouvir "as últimas".
Pouco depois íamos dormir e eu já sonhava com a próxima São Silvestre, enquanto esperava o sono chegar.
Ainda que seja um grande evento nos dias de hoje, com transmissão ao vivo, tv colorida, alta definição, prêmios milionários, informação em tempo real, que maravilha, eu adoro tudo isto, mesmo assim sinto saudades daquelas corridas do final do ano, elas tinham uma magia que não é possível resgatar, era como ler um livro, noventa por cento do espetáculo estava no que a gente não via, no que a gente imaginava, na fantasia, que com a quantidade de informação que temos hoje, em tempo real, fica impossível experimentar.
Que venham 2010, 11, 12, 22, 33, 55...
...enquanto não perder da memória estas lembranças, continuarei a ser aquele menino, que acompanhava com os olhos brilhando, o espetáculo da São Silvestre na passagem de ano.

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